Portada

Guarino Guarini: Geometrias arquitectónicas

DAFNE EDITORA
12 / 2009
9789898217073
Portugués
SABENTAS DA HISTORIA
Arquitectura

Sinopsis

A obra teórica e prática de Guarino Guarini ganha particular relevância na história da arquitectura ocidental por ter colocado várias questões relacionadas com a ideia de que os esquemas das linguagens clássicas não são imutáveis e podem ser corrigidos em função das necessidades do tempo moderno, incluindo a exploração de variantes dinâmicas para as diferentes formas dos templos. Como padre e arquitecto interno de uma organização religiosa, foi na concepção das igrejas que mais concentrou atenções, mas não deixou de colocar em evidência um método de pensar o projecto independente do programa funcional que se torne necessário resolver. A originalidade e brilhantismo das obras efectivamente realizadas granjeou-lhe o reconhecimento dos contemporâneos e foi até capaz de ultrapassar a hostilidade e desinteresse das gerações seguintes veiculadoras do ideal neoclássico, sendo reconduzido ao centro do debate arquitectónico pelos mais prestigiados historiadores do século XX. Representa o prolongamento da experiência de Borromini, mas apoiada por uma formação em filosofia mais estruturada, própria de um homem que defendia a escolástica de base aristotélica. O livro de Guarino Guarini, Architettura Civile, passou então a figurar no rol da tratadística específica da disciplina no grupo dos primeiros textos científicos da época moderna. Suportado pelo domínio das matemáticas e pela reflexão filosófica, filiou-se no campo da geometria projectiva dando corpo ao teorema de que as linhas paralelas se encontram no infinito e assim resolveu a ambição herdada dos construtores medievais em tempo gótico no sentido de elevar até Deus a ideia da verticalidade do espaço religioso. Por outro lado, ao submeter a ordem espacial à ideia de representação do não finito, concentrou as mais vistosas experiências arquitectónicas na determinação das condições de eficácia das plantas centralizadas, as que melhor expressavam o jogo ascensional das formas em complexos fortemente luminosos. Trabalhou com o desenho dos arcos parabólicos sob a luz intensa extraída das coberturas para criar um quadro espacial flutuante, capaz de provocar o enigmático sentimento de estupefacção e maravilha como um outro caminho para abrir a curiosidade e inteligência do espectador. A capacidade de conjugar os princípios geométricos estruturadores da forma com a interpretação do comportamento dos potenciais utilizadores da sua arquitectura, constituiu outra lição inovadora, a que se juntou a hábil utilização dos complementos decorativos, convencionais ou inventados, com recurso a materiais brilhantes ou à cor intensa integrada na manipulação arquitectónica do claro-escuro, para conquistar a admiração das pessoas simples. Curiosamente, só as igrejas de planta central realizadas em Turim na parte final da sua vida sobreviveram relativamente intactas até aos nossos dias. Mas os desenhos amplamente divulgados na passagem para o século XVIII e a doutrina expressa no seu tratado de arquitectura, acabaram por ter influência decisiva no desenvolvimento da linguagem barroca na Europa central. Contradições internas saídas do individualismo no modo de encarar a dúvida, explicam o ecletismo e a diversidade de maneiras para enfrentar os caminhos da produção artística. A transgressão premeditada de regras clássicas como a simetria, organização perspéctica, proporcionalidade e sequências, passou a constituir programa pessoal de cada pintor ou arquitecto, prevalecendo a ambiguidade, o arbitrário e o gosto pela afirmação do profano contra o sagrado, do erotismo contra o discurso da moral pública. Se as primeiras obras de Roma realizadas por Giulio Romano revelam já indícios da descrença nos enunciados formais do modo antigo, foi na produção para o duque de Mântua que melhor se exprimiu o seu génio irreverente, com recurso à transgressão sistemática dos códigos de receitas clássicas. Amante do desenho erótico, pintor de fantasias mitológicas em perspectivas dos mais estranhos ângulos, aplicou na concepção de palácios todas as artimanhas do fingimento, para iludir o sentido normal dos usos e ridicularizar a nobreza das formas construídas. O falso aparelho almofadado romano, porque executado em barro em vez de pedra, transformou-se em ciclópico. Taparam-se arcos e vãos, negando-lhes o sentido de passagem. Enrolaram-se as colunas, suspensas das paredes que deviam justificar. O código das receitas clássicas funcionou apenas como garantia do efeito transformador, referência para a compreensão dos erros. Não se pode considerar que o recuperado tratado de Vitrúvio constituísse um código de linguagem arquitectónica assente num conjunto coerente de regras. Mas a vontade de acreditar na existência de um sistema organizado de saberes, levou alguns intelectuais a acreditar que aquele testemunho do arquitecto de César abria caminho até à divina perfeição. O texto de Vitrúvio, mais precoce que o Império Romano organizado, não tinha uma tão grande ambição. Os primeiros humanistas dedicaram-se a procurar e interpretar quantos possíveis escritos e documentos pudessem existir e até a reescreve-los, para divulgar as suas reflexões filosóficas e científicas.

PVP
9,81